terça-feira, 8 de dezembro de 2009

BRASIL: UM PAÍS MAIS VELHO

Saiba mais sobre o estudo de projeções da população brasileira realizado pelo IBGE.


A população brasileira está envelhecendo em ritmo acelerado e até 2050 quase 30% da população do país terá acima de 60 anos e a expectativa de vida deverá chegar aos 81 anos. Por sua vez, o número de pessoas entre 0 e 14 anos se encontra em declínio. Com taxa de fecundidade abaixo do nível de reposição, nascem cada vez menos crianças no país.
Com isso, o número de habitantes deverá parar de crescer e até diminuir, passando de cerca de 219 milhões em 2039 – quando atingiria seu máximo – para 215,2 milhões em 2050. Por outro lado, o aumento da população em idade adulta e economicamente ativa poderá representar uma grande vantagem para a economia brasileira nos próximos 30 anos.
Essas são projeções de um estudo realizado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), intitulado “Projeções da população do Brasil por sexo e idade: 1980-2050”, o trabalho reconstituiu o crescimento populacional desde 1980 e, a partir de dados sobre fecundidade e mortalidade, faz projeções até o ano de 2050.

Confira a seguir, a entrevista do demógrafo Luiz Antônio Oliveira, coordenador de população e indicadores sociais do IBGE e um dos responsáveis pela pesquisa, feita à Agência FAPESP (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo).


Agência FAPESP – Quais poderão ser as principais mudanças na dinâmica demográfica da população brasileira nos próximos 30 anos?
Luiz Antônio Oliveira – As tendências demográficas mudam. Em nosso estudo, buscamos reconstituir o crescimento da população e das componentes demográficas desde 1980. Pudemos então, a partir daí, fazer as projeções para as próximas décadas, levando em conta as hipóteses recomendadas internacionalmente sobre os comportamentos dos níveis de fecundidade e de mortalidade. Daqui a 30 anos, a população brasileira deverá parar de crescer e começar a diminuir. Em 2039, ela alcançará seu maior tamanho, que estimamos em 219,1 milhões de habitantes. A partir daí, passará a declinar, caindo para 215,2 milhões. Também observamos que a população brasileira está envelhecendo cada vez mais e que nascem menos crianças. Em 2000, tínhamos 51 milhões de pessoas na faixa etária entre 0 e 14 anos, o que representava 29,8% da população brasileira. Em 2050, esse número cairá para 28,3 milhões, representando 13,1%. Por sua vez, o grupo acima de 60 anos, que era de 14 milhões em 2000, representando 8,1% da população total, aumentará enormemente, para 64 milhões, passando a representar 29,8%. Em resumo, o país está envelhecendo.

Agência FAPESP –Esse é um fenômeno que já vem sendo observado, não?
Oliveira – Sim. Em 2008, a esperança de vida de um brasileiro ao nascer é de 72,7 anos, bem maior que no passado – em 1940, era de 45,5 anos. Ou seja, estamos vivendo 27,2 anos a mais. Para 2050, a hipótese é que a vida média do brasileiro chegue ao patamar de 81 anos. Se separarmos por sexo, veremos que, em 2008, a média de vida para as mulheres está em 76,6 anos e, para os homens, em 69 anos, uma diferença de 7,6 anos.

Agência FAPESP – As mulheres têm sobrevida maior?
Oliveira – Sim, e isso se deve a uma série de fatores. Em nosso país, essa situação é ainda mais agravada pela mortalidade de jovens do sexo masculino entre os 18 e 30 anos por causas associadas à violência. Para se ter uma idéia, a incidência da mortalidade masculina no grupo etário entre os 20 e 24 anos é quase quatro vezes superior à feminina. Se isso não ocorresse, a esperança de vida dos homens seria de dois a três anos maior do que é hoje. Portanto, se não houver uma mudança nesse padrão, em 2050 o Brasil terá 7 milhões de mulheres a mais do que homens. Elas, na verdade, já são maioria. Para cada 100 meninos nascidos, nascem em média 105 meninas, é uma constatação biológica. Outro fator é que a mortalidade infantil dos meninos é maior que a das meninas.

Agência FAPESP –Os resultados do estudo feito pelo IBGE mostram que, por um lado, estão nascendo cada vez menos crianças no Brasil, que atualmente já tem uma taxa de fecundidade baixa. Por outro lado, o número de pessoas em idade potencialmente ativa se encontra em pleno processo de ascensão. Isso não será bom para a economia do país?
Oliveira – Sem dúvida, se soubermos aproveitar. Nos últimos 20 anos temos observado o crescimento da população em idade adulta, que vai dos 15 aos 59 anos, e da chamada população economicamente ativa, da faixa dos 20 aos 30 e dos 30 aos 40 anos. São pessoas que estão no mercado de trabalho, assegurando a sobrevivência da família. Esse movimento tende a continuar para daqui a 20 anos e isso, em teoria, é bom, pode ser visto como uma vantagem demográfica para a Economia. A Pnad (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios) de 2007 apresentava uma taxa média de 1,95 filho por mulher. A estimativa aponta para uma taxa de fecundidade em 2030 de 1,5 filho por mulher, que estaria abaixo do nível de reposição. Países como Espanha, Itália, Alemanha e França têm taxas de 1,2 ou 1,3 filho por mulher. Com a diminuição nas taxas de fertilidade, diminui também o peso das crianças de 0 a 14 anos sobre a população de 15 a 64 anos de idade, economicamente ativa. A população com idades em ingresso no mercado de trabalho (15 a 24 anos) passa pelo máximo de 34 milhões de pessoas, contingente que tende a diminuir nos próximos anos. O aproveitamento dessa oportunidade pode proporcionar um crescimento econômico ao país, se as pessoas forem bem preparadas e qualificadas profissionalmente.

Agência FAPESP – Por outro lado, com taxa de fecundidade baixa e após o envelhecimento do contingente de pessoas economicamente ativas, o aumento no número de idosos não poderá vir a ser um problema para o país?
Oliveira – Sim, se essa população não for produtiva acabará sendo um peso. A população tem que envelhecer com condições físicas e materiais. Terá de haver melhorias nas condições de vida, na área da saúde e nas ofertas de trabalho. Que essa seja uma população de idosos ativos e produtivos. Políticas de saúde e de inserção na economia terão que ser desenvolvidas. O país também terá que estar preparado para o impacto desse envelhecimento populacional na Previdência Social.

Agência FAPESP – Se o ritmo de crescimento populacional do Brasil ainda fosse o mesmo que o da década de 1950, a população brasileira atual seria muito maior do que 189 milhões. O país está acompanhando um fenômeno mundial de declínio populacional?
Oliveira – Sim, esse é um fenômeno resultante da globalização, da melhoria nos níveis de educação e inserção social, das mudanças nos padrões de família e do maior acesso aos métodos anticoncepcionais. Até 2050, o Brasil deverá passar da quinta para a oitava posição no ranking dos países mais populosos. Atualmente estamos atrás somente da China, Índia, Estados Unidos e Indonésia, mas, como deveremos parar de crescer em 2039, há a possibilidade de países como Paquistão e Bangladesh passarem o Brasil em números de habitantes, por terem taxas de fecundidade maiores do que a nossa.
Crédito: Agência FAPESP

RECURSOS HÍDRICOS DO CERRADO

Entenda porque as águas do Cerrado são fundamentais para os rios brasileiros.

“A adequada gestão dos solos e dos recursos hídricos do Cerrado e a preservação de suas nascentes são fatores fundamentais para os processos de produção e distribuição de água pelos rios do Brasil”. A avaliação é do pesquisador da Embrapa Cerrados, Jorge Enoch Furquim Werneck Lima, responsável por uma pesquisa que estimou a contribuição que o bioma oferece ao país em termos hidrológicos.


O Cerrado ocupa uma área de cerca de 212 milhões de hectares, equivalente a um quarto do território nacional.
Foto: Fábio Rodrigues Pozzebom/Agência Brasil

“Como o Cerrado está numa região central e alta do continente, ele tem esse efeito que denominamos de guarda-chuva: a água cai aqui e se distribui por grande parte do país e pela América do Sul. Vários rios importantes recebem água do Cerrado”, explica.


Brasil - Bioma Cerrado


Das 12 grandes regiões hidrográficas brasileiras, oito recebem contribuição hídrica do Cerrado. A bacia do rio São Francisco, por exemplo, deve 94% da vazão em sua foz ao bioma. Há situações em que a participação desse bioma corresponde a mais de 100% do volume total gerado na bacia - é o que ocorre na bacia do Paraguai, que engloba a região do Pantanal, com 136%.
Ou seja, passa mais água dos rios do Cerrado para o Pantanal do que o montante que este transfere ao rio Paraguai. “São as águas do Cerrado que viabilizam a existência do Pantanal”, afirma Lima. Além das bacias do Paraguai e do São Francisco, outras regiões hidrográficas possuem grande parte de sua vazão gerada em área de Cerrado, como a do Parnaíba (106%), a do Tocantins/Araguaia (70%) e a do Paraná (50%).

Brasil: Bacias Hidrográficas

De acordo com o pesquisador, importantes usinas hidrelétricas do País recebem água do Cerrado. “Setenta por cento das águas que passam nas turbinas de Tucuruí vêm do Cerrado, a metade da água que passa em Itaipu também vem desse bioma. No caso da usina hidrelétrica de Sobradinho, que possui um dos maiores reservatórios do mundo, esse valor chega a quase 100%”, destaca. Além da geração de energia, as águas provenientes do Cerrado também são responsáveis pelo abastecimento de cidades e pela irrigação de terras agrícolas, isso sem falar no que representam para o turismo e lazer, como o caso do rio Araguaia - um dos principais cursos d’água do Cerrado brasileiro e que possui destinação turística nos quatro estados por ele banhados: Goiás, Mato Grosso, Tocantins e Pará.

Relevância simbólica
Um dos locais de destaque no Cerrado é a Estação Ecológica Águas Emendadas, localizada na região central do Brasil, no Distrito Federal, ocupando uma área de aproximadamente 10.500 hectares. De acordo com o pesquisador, ela está estrategicamente localizada na nascente de duas grandes bacias hidrográficas do Brasil e do continente sul-americano, as dos rios Tocantins e Paraná, esta última, integrante da bacia do rio da Prata. “Essa região simboliza muito bem o papel do Cerrado em relação aos recursos hídricos do país e do continente. Uma área de nascentes que armazena e distribui água para grandes bacias hidrográficas”.
O pesquisador ressalta que as veredas e as zonas de nascentes, como as presentes na área de Águas Emendadas, são ecossistemas frágeis. “Pequenas alterações no ambiente podem ser responsáveis pela sua completa extinção”, enfatiza. Segundo ele, a urbanização do local e o desenvolvimento de atividades econômicas já configuram uma ameaça a essa unidade de conservação. “Assim, é fundamental a realização de monitoramento, estudos, pesquisas e discussões junto à sociedade para a conservação dessa área, uma vez que esse sistema ecológico é frágil e nem sempre os impactos sofridos por ele poderão ser revertidos”, alerta o pesquisador.

Conheça mais
Os dois principais cursos d’água da estação ecológica são os Córregos Vereda Grande (bacia do Tocantins) e Fumal (bacia do Paraná), ambos originados na Vereda Grande, que tem cerca de seis quilômetros de extensão. As veredas são áreas onde o lençol freático fica próximo à superfície durante todo o tempo e, no caso de Águas Emendadas, este propicia, por vezes, uma lâmina de água sobre a superfície do solo. O fato de esta única área alagada verter para duas diferentes bacias hidrográficas dá origem ao nome da estação ecológica: Águas Emendadas.
A água que verte para o norte segue um percurso de mais de dois mil quilômetros pela bacia do rio Tocantins, enquanto a que vai para o sul percorre cerca de 3.300 quilômetros pela bacia do rio da Prata, até chegar ao mar. Portanto, somando-se os trajetos, as águas superficiais geradas na Estação Ecológica Águas Emendadas contribuem para uma extensão territorial de mais de 5.000 quilômetros, percorrendo quatro diferentes países, o que representa uma singularidade marcante dessa área.
Crédito texto: Agência Envolverde

Para saber mais sobre o Cerrado, acesse a reportagem Biomas brasileiros.